29 de março de 2012

Ser eu

Os meus ouvidos são para os rumores,
e as minhas costas para as pedradas.
Se me dão flores?
- Apenas as velhinhas despetaladas...

Meus pés são para outras caminhadas
E as minhas mãos para outros favores.
Se eu tenho amadas?
- Apenas as despetaladas flores.
Um estorvo

Eu vivo do que de manhã respiro
E do que de noite bebo,
Porque amanheço louco
E do pouco me esqueço.

Eu vivo daquela que não me ama
E do filho que não pareço,
Porque a casa que em mim levanta
Não é minha quando anoiteço.

Eu vivo de tudo o que não tenho:
Da lua que cresce ao mar que não vejo...
Porque é da chuva a flor que desenho,
Porque é do vento a boca que eu beijo.

28 de março de 2012

Na Terra do Zé Ninguém

Nasci sem asa
E caí de fruto,
Verde e imaturo,
Na terra do Zé Ninguém.
Deram-me mãos e pernas,
E olhos e boca para eu amar.
Mas não se ama,
Na terra do Zé Ninguém.

Nasci sem casa
E morei sem canto
Morto e inseguro
Nas ruas de Zé Ninguém.
Deram-me água e sumo,
E sonhos de paz para eu beber.
Mas ninguém bebe
Na terra do Zé Ninguém.